quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O QUE ME FALTA

A dias venho me perguntando
Onde é que foi parar?
Em que parte do caminho a perdi?
Percebo neste momento
Que sofro de amnésia
Estou parada e cheia de dúvidas
Porque não tenho mais combustível
E o esquecimento
Não me deixa lembrar
Onde fica a fonte
Isso está enferrujando o meu carro
Por tantos dias na chuva
Descubro que estou a muito tempo estacionada
Quando vejo arranhões, batidas, entre outros...
Marcas deixadas pela estagnação
Tenho um mapa antigo
Um carro que não funciona
E muitas vontades
A bússola está quebrada
E neste exato momento me pergunto
Estando em tal ponto
Pra onde devo seguir?
Qual estratégia seria a melhor?
Não encontro mais o que me move
E concluo que os milhares de desejos
Aliados aos meus infindáveis questionamentos
Levaram pra bem longe de mim
O que me dava tesão
Ambos de alguma maneira,
Consumiram o que tanto preciso...
A paixão.

__ Solange Cruz


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

HORMONOTERAPIA

Drograda em tempo integral
E dizem que droga mata
Não fosse essa que me maltrata
Dia e noite
Semanas
Meses
Talvez anos
Com sorte
A linda vida que me restar
Meus vícios mudaram
Da felicidade falsa do álcool
À sorrisos e abraços sinceros dos meus
Da vibe positiva da erva
À natureza, yoga e meditação
O tiro branco
Deu lugar a uma rasteira da vida, quase um tiro negro
Que hoje recebo como surpresa positiva
Descobrindo a cada dia
A coragem que me faltava
Um olhar diferente
Uma segurança escondida
Um medo que foi passear
Um espírito aventureiro
Mais consciente
As minhas verdades são ainda mais claras
Os meus sonhos viraram gigantes em mim
O amor pelas pessoas que já amava são montanhas firmes e com vales leves de paz
A alegria contagiante das crianças me emociona profundamente
Vejo além do que já pensei ser capaz
Recebo visitas contantes em meus sonhos
Do filho que não tive
Do menino branco e loirinho gargalhando e correndo na orla da praia do mar azul turquesa
Ela também está ali, sempre cuidando do nosso guri
E isso, não sou a única a ver
Coisas inexplicáveis se tornaram estranhamente curiosas
Busco explicação pra tudo e em tudo
Dou passos curtos com sede de cada segundo
Mas corro por não saber sobre amanhã
Amo com mais intensidade:
Minha família
Meus amigos
A arte
A cor azul
Minha crença
Tapioca, chocolate, vinho
Amoras, muitas amoras
O ar, o mar...
Os quatro elementos
Iemanjá
Ter o signo que tenho
Tudo que aprendo
Tudo que conheço
Meus livros, documentários, filmes...
Meus bichos
Minha casa
Meu bairro
Ser mulher
Meus seios
Minhas pernas
Meu corpo
Quem sou e/ou me tornei
Os planos que deram errados
E os que deram certo até aqui
Enfim amo minha vida
E me declaro viciada em amar

__ Solange Cruz

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

NOSSA REALIDADE

Duas vidas
Vividas em épocas diferentes
Com histórias parecidas 
E hábitos iguais
Algumas décadas
A menos
A mais
Ambas repletas de vontades e sonhos
Banidas por traumas, dores, desamores...
Verdades extremas, profundas...
Uma mistura delicada
Do eu em você
Ou de você em mim
Medo de invadir
De ser invadida
Desejo de viver
A leveza contida por dentro
Com danos que impedem permissões
Desgastadas por desilusões
Expectativas frustradas
Coisas morreram, mas ainda vivem
Deixando a ausência
Ao mesmo tempo em que a buscamos
Optamos em escolher
Um conhecer debulhado
Em sinceridade e respeito mútuo
E individualmente somos
A dual realidade unificada em nós.

__ Solange Cruz

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

VÍCIO SOLITÁRIO

Insana
Mente
Minha
Mente
Que
Não tem
Tesão
Lembrança
De lábios
De sangue
Negro e
Quente
Nos lábios
Em ebulição
Ainda
Em expediente
Porém
Independe
Foi culpa dela
Onde
Meti a mão

___ Solange Cruz



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

UM FILHO QUE NÃO NASCEU

Geramos alguns momentos
Prazeres, amigos
Geramos o desejo de sermos mais
E nunca estarmos sós
Tivemos fases de empatia
Carinho, cuidado, cumplicidade
Tivemos mais conflitos
Juramos a nós evitarmos isso
Por um bem maior
Mas não podemos negar quem somos
Em virtudes e em falhas
Haverá de nascer em nós
Seres melhores
Mas em quase vinte e quatro meses
Não fomos capazes
E por alguns motivos
Nosso filho não nasceu
Não porquê julgávamos difícil educa-lo
A verdade é que ainda não educamos a nós mesmas
Esta sim, é a grande dificuldade.

__ Solange Cruz


ANSIEDADE

Presa dentro de mim
Tem raiva da minha paz
Hospedeira de minha mente
Passa o tempo planejando o amanhã
Não dorme e me maltrata
Não é bem vinda
Mas aqui habita desde minha infância
Mesmo presa, quer me prender
Inquilina
Que preocupa
Faz sofrer
Que prevê futuro
Que sabe tudo
É inquieta
Causa insônia
Sente tudo
Energeticamente constante
Nenhum calmante te libertou daqui
Deixa-me um só dia dormir
Pra que eu pelo menos possa sonhar
Com sua liberdade, nossa liberdade
Liberdade de mim.

__ Solange Cruz


VELHICE PRECOCE

Caminhando
Sentindo o peso
Da idade que me cabe
Da balada de outrora
De hábitos e vícios que seguiam
A coluna dói e o pescoço também
Não sou velha
Nem tão jovem
Meu corpo reclama
Surpresas aparecem nele
Com nomes científicos variados
Fico confusa
Com saudades da infância
De escorregar no sabão enquanto o quintal era lavado
Por me machucar e levantar sorrindo
Hoje, se caio pode ser mico
Não que eu me importe com olhares alheios
Mas sei que ali estão
Talvez o peso venha da vida
Talvez de nós mesmos
Talvez do carma que nos segue
Talvez da genética
Talvez eu viva mais o tanto da minha própria idade
Talvez mais que isso
Talvez não
Mas vivo constante e intensamente
Mesmo trocando pés; pelas mãos.

__ Solange Cruz